Pedimos a colaboração dos leitores em não perguntar à autora sobre a veracidade dos fatos. Devido a ameaças de vida, ela não pode responder tais perguntas. Agradecemos a colaboração.
E foi mais ou menos assim...
Um sol de cozinhar os miolos e um calor aparentando ser uma amostra grátis do que seria o inferno (apesar de eu acreditar cegamente que o inferno é aqui, enfim...). Semana estressante. Trabalho, muito trabalho, dor de cabeça? Até demais. A promessa era um churrasco ao fim de semana. Bom demais. Churrasco, piscina, chácara, rede e tranqüilidade. O que mais poderíamos querer?
Como não consegui folga no fim de semana para ir com o resto do pessoal na sexta, tive que ir sábado depois do trabalho. Peguei minhas “tralhas” absurdamente rápido e nem um minuto depois do programado eu já estava no ônibus rumo ao paraíso. Eis que começa a aventura...
Foi combinado de irem me buscar na estrada até porque esse lugar maravilhoso, pelo qual amo demais, fica absurdos quatro km para “dentro do mato” e não tenho nem em minha imaginação mais fértil condicionamento físico para isso.
Descendo no ponto de ônibus notei Lindomar Orlando, O Tio (usaremos pseudônimos nessa história para preservar a imagem e a dignidade das “vitimas”) já me esperando com uma cara de extrema preocupação. Estava ao celular. Aproximei-me e ele apontou para eu entrar no carro. Joguei minhas coisas lá dentro e fiquei prestando a atenção na ligação:
-Porque vocês não vêm tomar um café aqui com a gente? Vou fazer um churrasco... É... Então apareçam... O que? Ah, vim buscar a Barbara na estrada, por isso estou ligando, sabem que lá não pega celular. Ah, ok! Vou esperá-los. Tchau.
Desligou. Olhou para mim sério e impassível.
-A Fabiana não vem.
-:Como assim? –perguntei
-É... Ela não vem. Eu estava ligando para outro pessoal para ver se eles vinham, mas não acredito que isso aconteça.
Na minha cabeça eu sabia a resposta de tudo isso. Chamar as pessoas com antecedência é o melhor negócio. Mas, enfim, como a chácara é dele, ele bem faz o que achar melhor.
-Quem vai fazer o churrasco? – questionei.
Ele arfou, deu uma baforada do seu cigarro e desconversou. Eu não disse mais nada.
-Lá vem o Hal – apontou Lindomar.
Hal Jordan, O Sobrinho, vinha em passos lentos com sua camisa de “Vingador” e óculos de sol parecendo um matador. Eu quis rir, sério mesmo, mas não o fiz. A situação estava ficando meio tensa. Mentira! Eu ri sim, não perderia a oportunidade, mas não deixei ele ver. Mentira! Acho que ele viu sim... Enfim...
-Pronto tio, comprei o pão! – ele disse arfando, suando em bicas.
-Ótimo! Então vamos embora!
Entramos no Titio Móvel , atualizando as fofocas, no rádio boa música como sempre, mas dentro do meu coração algo gritava que alguma coisa ia rolar ali de estranho. Meu coração? Meu estômago? Vai saber!
Chegamos lá, cumprimentei a titia e a pedidos sérios do meu amado tio de eu enfiar um biquíni logo, devido a sua aflição de me ver num calor tão grande cheia de roupas pretas, saio em disparada para me trocar. Voltando vi que a “coisa” tava ficando séria.
E assim seguem-se os fatos:
L.Orlando vai em direção a churrasqueira. Joga carvão. Joga Álcool. Toca fogo. O fogo sobe, ele abana. O fogo acaba. Mais álcool, mais fogo. O fogo sobe. Ele abana. O fogo apaga.
-É por isso que eu não gosto de fazer churrasco! Eu não entendo como eles conseguem acender isso. - esbravejou ele pegando outro cigarro.
-Você não sabe acender uma churrasqueira? – indaguei sentando-me à mesa.
Hal olhou para mim balançando a cabeça negativamente. Meu Deus! O que seria de nós? O que seria do nosso “papa”? Não disse nada, pois a situação era tão tristinha que eu não queria piorar.
Pobre do meu tio. Colocou mais álcool, que por sinal já estava acabando, o fogo sobe até o alto, mas começa a baixar. Hal tomou as dores do tio e correu para ajudá-lo. Colocaram tanto carvão que ele também já estava acabando junto com a minha esperança de um churrasquinho...
Sai para tomar uma água, relaxar e quando voltei pensa numa coisa “tensa”? Vi Hal enrolando jornal e jogando na churrasqueira junto com vários pedaços de papelão. Sério, fiz uma retrospectiva mental rápida de todos os churrascos que fui na vida e não me lembrava dessa parte.
Caos! Eles correm jogando cada vez mais coisas lá dentro. Hal quase se queima diversas vezes. Os dois pretos devido à fumaceira que está invadindo o recinto. E pior, com óculos de sol para não queimar a vista!!! Tem como não achar a situação um tanto... Estranha?
E chegamos à pior parte? Não! Num ato de desespero vejo meu tio passando correndo e jogando o que meus caros leitores? Querosene! Dou um grito. O fogo se alastra. E a maldita churrasqueira não pega DE JEITO NENHUM! Uma fumaça preta começa a subir e Lindomar não satisfeito, com uma expressão homicida joga Removedor!
A situação não poderia estar pior. Aquele cheiro de removedor se alastra rapidamente e não vejo a possibilidade de assar alguma coisa ali. Mas como para eles já não era nem fome e sim orgulho a batalha não havia terminado.
Viro as costas. Meu Deus!
-Agora sim! –ouvi os dois festejando.
Olho e vejo dois ramos de alecrim queimando junto com aquela “macumbaiada” toda. Alecrim? Isso mesmo!
-Para que Alecrim? – suspirei totalmente descrente.
-Ora! – exclamou L.Orlando como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo - para tirar o cheiro do removedor.
HAHAHAHA Só rindo mesmo. Sério, na minha mente não havia mais a remota chance de alguma carne ser assada em tal situação. Mas agora não sei, se foi Deus, se apiedando, se foi a churrasqueira mesmo, desistindo da guerra... Só sei que ”puf” a churrasqueira finalmente pega. Olhamos todos surpresos um para o outro. Claro, aqueles dois coitadinhos acabados depois da guerra só faltaram chorar. L.Orlando logo correu e botou para assar tudo.
Dizem que a fome é o melhor tempero. Olha, de verdade não sei se concordo ou discordo. Mas sei que o “negócinho” ficou bom viu? Depois os caseiros foram lá e comeram com a gente e elogiaram a beça. Ninguém contou nada sobre como foi feito o tal churrasco. Mas enquanto eles lambiam os beiços eu rezava para as palavras: removedor, jornal, querosene e papelão não passarem pela cabeça deles. Fomos salvos pelo Alecrim.